Thursday, May 28, 2015

A coisa mais importante na vida de um ser humano

Cada vez mais me convenço de que é a coisa mais importante na vida de um ser humano são outros seres humanos.
Há uma distinção entre solidão e isolamento que talvez seja interessante de ser feita. Fundamentalmente todos somos sós. O fato de ninguém poder viver por nós (e ninguém pode viver exatamente o que vivemos, seja no prazer ou na dor), de existir a individualidade, define uma solidão fundamental da qual não há como fugir. Por existir a individualidade, somos todos então inevitavelmente sós. Desse modo é portanto possível traçar uma distinção para com o isolamento, o qual teria um caráter mais evitável.
Mas a minha questão principal é a seguinte: quem são, como são os sobreviventes do completo isolamento social?
Sabemos que na infância, principalmente dos 0 aos 7 anos de idade, o completo isolamento social provoca danos imensos ao desenvolvimento humano. Existem períodos críticos, janelas de desenvolvimento. Se a criança não adquirir uma determinada habilidade em um determinado período específico, muito dificilmente irá adquiri-la depois. O caso da linguagem costuma ser emblemático. Criança que não aprende a falar até os 5 anos de idade, dificilmente será capaz de adquirir essa habilidade posteriormente.
Na idade adulta, o completo isolamento social precisa de algumas estratégias eficazes de compensação, senão a tendência é desembocar na loucura.

Portanto, a minha compreensão é que crianças não escapam sem dano do completo isolamento social. E os adultos que escapam só o fazem porque na verdade não estavam tão isolados assim. Psicologicamente sobrevivem pelas artimanhas de algumas formas de solilóquio ou obras de arte, os quais continuam de certo modo produzindo a trama das interações sociais.

Amor erótico

Há poucos dias alguém se queixava pra mim de sua vida amorosa (erótica):
"Não acredito mais no amor..."
"Eu nunca acreditei nesse tipo de amor" - respondi.
E também nunca deixei de amar (eroticamente) em função de meu ceticismo.

Pedir pra Deus

- Isso vai passar, Adriano! É só você ter fé, e acreditar em Deus, que ele vai resolver isso pra você! Pra Deus nada é impossível!
- Mas se Deus pode tudo e sabe tudo, sabendo inclusive o que é melhor pra mim, meu pedido não significa nada. Então não faz sentido pedir o que quer que seja. Deus não é Papai Noel, concorda? O que eu quero não importa. O que importa é o que ele quer pra mim, não?

A mãe e o tempo

Temos que ter paciência e nada como o tempo para cicatrizar as feridas. Espere, deixe o tempo passar que um dia a ferida se cicatriza. Com minha mãe essa história não é diferente. Quando brigamos, sempre respiramos fundo e esperamos, com paciência, o tempo passar. É sempre muito doloroso lidar com esse processo tão lento de cicatrização, o qual parece que não vai acabar nunca. Para isso é preciso também ser forte e esperar, porque depois de longos e infinitos 5 minutos está tudo resolvido entre nós!

A cor dos olhos e o espanto filosófico

É muito importante para a postura filosófica a capacidade de se espantar com o mundo, como se a tudo percebesse pela primeira vez.
Um olhar que se espanta é um olhar que percebe algo diverso do olhar comum. É um olhar renovado, ou primeiro. Um olhar puro, ingênuo, despido das contaminações cotidianas, das influências mais próximas.
Pode ser o olhar de uma pessoa em estado alterado de consciência (e nessa medida podemos pensar de fenômenos que vão dos sonhos ao uso de drogas), de uma criança, o olhar do louco, do bêbado ou até mesmo a percepção que animais não-humanos teriam.
Não é gratuita a inspiração que o movimento romântico sempre teve em relação a tudo o que é olhar e forma marginal de existência. Daí seu elogio à marginalidade expressa no fazer artístico, no uso de drogas, na rebeldia, nas ações cotidianas de animais não-humanos e das crianças, enfim, no elogio de tudo o que é diferente e inusitado.
Hoje, mais uma vez, uma criança (com 7 anos de idade) teve um olhar surpreendente em relação aos olhos de minha filha:
"O olho dela é diferente" - a maioria das pessoas diz que os olhos dela são bonitos.
"É diferente como?" - perguntei, pois ela poderia estar falando de várias características possíveis, desde o tamanho até a forma dos olhos.
"A cor! É diferente."
"E que cor você acha que são os olhos dela?"
"Não sei."
E os adultos não hesitam em dizer: "Que lindos esses olhos azuis dela!"...