Saturday, August 08, 2015

Da poesia desisti

Da poesia desisti. agora é ruína: restos e rastros que arrasto, voz morta na gaveta, boi sem pasto. hoje sou pele e osso de tudo o que já escrevi...

Medo de voar

Você tem medo de voar? A medida mais fidedigna para se pensar sobre o risco é de quantas mortes ocorrem por bilhão de quilômetros rodados. E sim: a taxa é muitíssimo menor para aviões. De ônibus o risco é 8 vezes maior. De carro é 62 vezes maior e de moto é mais de 2 mil vezes maior. Número de mortes por bilhão de quilômetros rodados: avião: 0,05; ônibus: 0,4; trem: 0,6; carro: 3,1; bicicleta: 44,6; a pé: 54,2; moto: 108,9.

Fonte: http://www.numberwatch.co.uk/risks_of_travel.htm

Poesia bruta

Cada criança tem as suas peculiaridades hilárias e até mesmo poéticas, de uma poeticidade espontânea, acidental, em estado bruto.

Luisa, quando se machuca, quando alguma coisa a fere ao ponto dela chorar intensamente, logo aponta para o banheiro porque quer se olhar no espelho enquanto chora. Ela fica observando e "brincando", explorando suas próprias expressões enquanto chora.

Pois é, como disse uma vez Fernando Pessoa: o poeta é um fingidor que finge que é dor a dor que deveras [que realmente] sente.

Dessensibilização progressiva

Eu e minha filha assistimos novamente àquela cena de Tom e Jerry na qual Jerry se despede de um leão amigo, com um navio que vai partindo, até desaparecer no horizonte. Jerry acena com um lencinho, com algumas poucas lágrimas a escorrer de seu rosto.

Para a minha surpresa ela reconheceu o que estava sendo representado, e apontou para a tela, chorando, se emocionando sofrida e verdadeiramente com a cena.

Assistimos então a esse episódio pela segunda vez e o efeito foi mais ameno. Sua boquinha se entortou em expressão de choro, com os lábios tremendo e os olhinhos marejados. Mas não chorou. Aguentou firme. 

É, a gente vai se acostumando com algumas durezas da vida...

Inteligência humana

Aquele serzinho, que está há um ano e meio nesse mundo, fala uma ou outra palavrinha isolada, mas compreende um monte de coisas das quais você não tem a menor ideia de que ele seja capaz.

Estávamos uma vez, há mais de um mês, eu e minha filha, assistindo ao Tom e Jerry. Era a primeira vez que ela assistia a esse desenho. Um grande leão havia fugido do circo, e se abrigado na casa de Tom e Jerry, se tornando um grande amigo do rato. No final Jerry inclusive o auxilia a pegar um navio de volta à África, onde voltaria a ser livre.

Quando o navio está partindo, Jerry se despede, acenando com um lencinho na mão, em lágrimas. Minha filha aponta para a tela e chora junto, com um choro verdadeiro e sofrido, com lágrimas. Acho que essa foi a primeira produção cinematográfica que a embalou, a envolveu, com a qual ela se emocionou junto.

E ninguém havia explicado a ela que o leão estava indo embora, que aquilo era uma despedida. Claro, ela detesta despedidas. A palavra que não deve ser dita aqui em casa é “tchau”, principalmente se você estiver andando em direção à porta de saída. Mas ela foi capaz de generalizar os gestos para uma representação pictórica bem específica. Para isso muitas crianças da sua idade são capazes, e é exatamente disso que nós nos esquecemos.

Nunca calibramos muito bem. Civilizações antigas, crianças e animais não-humanos: quando pensamos nessas três categorias sempre tendemos a errar em nossas estimativas. 

Os antigos são sempre subestimados, e há até teorias conspiratórias a afirmar que não fizeram o que fizeram de grandioso – seria obra de extraterrestres. Crianças e animais que não amamos também são subestimados. Com amor na jogada a estimativa costuma se inverter.

E também, há poucos dias, a televisão estava ligada em algum noticiário esportivo. Ao observar a cena de um jogador fazendo um gol, levantando os braços e comemorando, ela também levantou os braços, saiu comemorando e, para botar uma cereja no bolo, gritando gol. E olha que aqui em casa ninguém comemora gol, ninguém se liga muito em futebol pela televisão, pois sempre preferi jogar a assistir.

Isso tudo é muito divertido...